sexta-feira, 28 de maio de 2010

Brasil é o país que causa maior impacto ao meio ambiente


Pesquisadores elaboraram dois rankings de países que mais degradam o meio ambiente. Em uma das listas, a que considera o impacto absoluto de cada nação, o Brasil aparece como o pior país, graças ao desmatamento

Bruno Calixto

Um estudo publicado na revista científica PloS One (www.plosone.org) identificou o Brasil como um dos países que mais causam danos ao meio ambiente. A pesquisa, intitulada "Evaluating the Relative Environmental Impact of Countries", foi produzida por pesquisadores da Universidade de Adelaide, Austrália, e publicada no dia 9 deste mês.

O artigo compara o estado da degradação do meio ambiente em mais de 170 países, utilizando diversos critérios, como crescimento da população de cada país, desmatamento, poluição marinha e perda da biodiversidade. O documento também apresenta dois rankings de países que mais causam impacto à natureza.

Segundo os autores, o objetivo do ranking é identificar as nações mais bem sucedidas na condução de políticas para reduzir a degradação ambiental, e também apontar as políticas que falharam. "Nosso objetivo aqui é apresentar métricas simples para medir os impactos ambientais - absolutos ou proporcionais - dos países", diz o estudo, em livre tradução do inglês.

Em uma das listas, a que considera o impacto ambiental de maneira absoluta, isto é, sem considerar o tamanho do país ou a quantidade de recursos naturais disponíveis, o Brasil foi classificado como o país que causa mais impacto no meio ambiente.

O principal motivo para que o Brasil tenha sido considerado o pior para o meio ambiente, na lista absoluta, é o desmatamento. O país é o primeiro no critério de perda de floresta natural e o terceiro em conversão do habitat natural. O Brasil também foi classificado como quarto no total de espécies ameaçadas e na quantidade de emissões de CO2.

"De uma perspectiva global, os países mais populosos e economicamente influentes tiveram o maior impacto ambiental absoluto: Brasil, EUA, China, Indonésia, Japão, México, Índia, Rússia, Austrália e Peru foram os 10 países pior classificados", diz o artigo.

A segunda lista classifica os países levando em conta seu impacto proporcional ao total de recursos naturais presentes em cada país. Nessa classificação, o Brasil não aparece entre os 20 piores.

"Este índice classifica os seguintes países como tendo o maior impacto ambiental proporcional: Cingapura, Coréia, Qatar, Kuwait, Japão, Tailândia, Bahrain, Malásia, Filipinas e Holanda", diz o estudo.

De acordo com a pesquisa, existe uma relação, indicando que os países que mais degradam o meio ambiente são aqueles com maior população e maior riqueza.

"Os resultados também mostram que a comunidade mundial deve incentivar os países menos desenvolvidos a um melhor desempenho ambiental, especialmente na Ásia", diz o artigo.

Isso porque seis países asiáticos aparecem no topo, tanto da lista proporcional quanto daquela que avalia o impacto ambiental absoluto: China, Indonésia, Japão, Malásia, Tailândia e Filipinas.

O artigo está disponível, na íntegra e em inglês, no seguinte endereço:

http://www.plosone.org/article/info:doi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0010440

Fonte: Amazonia.org.br

Investigação da Polícia Federal revela falha em controle de florestas


Investigação feita pela Polícia Federal mostra que os sistemas criados pelos governos para controlar a extração de madeira se transformaram, ao longo dos anos, em pista livre para "esquentar" o produto retirado ilegalmente, permitindo a legalização de planos de manejo de florestas "até no oceano".

De acordo com a PF, planos de manejo fictícios, autorização de desmatamento e guias de transporte florestal fraudadas, além do comércio paralelo de créditos florestais, foram algumas das práticas adotadas por quadrilhas especializadas em "legalizar" madeira.

"O sistema representou um grande avanço, mas é preciso mais transparência. Mexer na gestão florestal. Hoje, a segurança existente é para inglês ver", avaliou o delegado Franco Perazzone, que liderou por dois anos as investigações da Operação Jurupari, deflagrada semana passada no Mato Grosso. "A forma de ação é muito semelhante. Seja aqui, seja em outro estado", disse. "Na forma atual, é possível conseguir plano de manejo até no oceano", afirmou o delegado da Polícia Federal Marcelo Sálvio Rezende Vieira.

O Sistema Informatizado de Gestão de Produtos Florestais (Sisflora) foi criado em 2006 para substituir as Autorizações de Transporte de Produtos Florestais, alvo fácil de adulteração. O formato, estadual, está em funcionamento no Mato Grosso, Pará, Rondônia e Maranhão. Há também o sistema federal, o Documento de Origem Florestal que, na avaliação de Perazzone, apresenta deficiências semelhantes. "O sistema se modernizou. E a fraude também, com a diferença que agora ela conta também com engenheiros e servidores públicos."

Irregularidades As estratégias para legalizar a madeira ilegal são inúmeras. Começam por plano de manejo fictícios preparados com base em fotos antigas ou imagens de satélite de outras propriedades. "Cheguei a ver inventários florestais padrão. Com mesma descrição, com mesma quantidade de madeira para mais de uma propriedade", contou Perazzone.

Para fazer o plano de manejo florestal fraudulento, proprietários se valem de engenheiros integrantes de esquemas. "Já vi casos de engenheiros fazerem 50, 60 planos simultaneamente", contou Glauco Saraiva, coordenador-geral da Operação Arco de Fogo, desencadeada há dois anos na região campeã de desmatamento na Amazônia. "Algo difícil de se conseguir, pois envolve inventário florestal, que é bastante trabalhoso."

A partir dos achados das operações, Perazzone fez uma série de observações sobre as falhas e as encaminhou para Ministério Público. "O ideal é fazer ajustes no sistema. Caso contrário, dificilmente as fraudes vão parar."

Fonte: Agência Estado

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Peru anuncia 10 mi de hectares para exploração de petróleo na Amazônia Área equivale a pouco mais do que duas vezes o estado do Rio.


O governo do Peru anunciou na última sexta-feira (21) a abertura de processos de licitação para exploração petrolífera em 25 novos lotes de terra localizados na Amazônia do país. A agenda de concessões para 2010 segue até outubro e abrange uma área não explorada na floresta de 10 milhões de hectares, equivalente a pouco mais do que duas vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro.
Dos novos lotes apresentados pela Perupetro, empresa estatal do setor no país, apenas um está fora da Amazônia e possui 314 mil hectares. Entre os outros, todos na Amazônia, a novidade está no redesenho do Lote 110, localizado na bacia do Ucayali, próximo a fronteira com o Brasil, no Acre. Pertencente a brasileira Petrobras, o lote aparecia no mapa do ano passado, mas em 2010 foi extinto e redividido em novas concessões.

Isso ocorreu em respeito aos limites da reserva indígena dos murunahua, também conhecidos como chitonahua. Vivendo de maneira isolada no país, os índios tinham sua reserva ameaçada pelo avanço das empresas petrolíferas. Agora, com a nova configuração, ao menos dois novos lotes, o 188 e o 189, foram instituídos bem ao lado dos murunahua, mas sem invadir seu território.
Organizações não governamentais como a Survival International chamam a atenção para o perigo que podem correr índios isolados no Peru com a evolução da atividade petrolífera no país. De acordo com a ONG, alguns dos murunahua foram contactados pela primeira vez em meados do anos de 1990 e, na ocasião, metade dos índios faleceu por conta de uma gripe.
De acordo com a Associação Interétnica da Selva Peruna (Aidesp), o crescimento da exploração de petróleo e gás natural na Amazônia peruana também ameaça outros povos. Em nota publicada no fim da semana passada, a associação informou ter enviado nova carta às autoridades lembrando sobre a presença de populações em áreas destinadas à exploração. Previsto nas licitações para 2010, o lote 177 seria uma dessas áreas, onde vivem ao menos duas comunidades.


FONTE: Do Globo Amazônia, em São Paulo

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Maior mina de ferro do mundo, Carajás tenta conciliar exploração e preservação






Maior reserva de ferro de alto teor do mundo, a mina de Carajás, no Pará, ocupa papel central entre os garimpos na Amazônia, responsável por cerca de um quarto da produção brasileira de minérios.
A mina está no centro de uma grande província mineral e também tem a maior reserva de manganês do Brasil, além de ouro, dez jazidas de cobre e quatro de níquel.
Carajás fica ao lado de Serra Pelada, que no início dos anos de 1980 ficou conhecida como a maior mina a céu aberto do mundo e, recentemente, teve a retomada das atividades autorizada pelo governo. Com incentivos do governo militar, as duas minas cresceram a atraíram pessoas para ocupar a Amazônia.
Um deles é o garimpeiro Miguel dos Anjos Marques, que cava em Carajás um buraco com 107 metros de profundida para procurar ouro. Ao lado de outros trabalhadores, ele fica oito horas por dia em baixo da terra. "Estou acostumado. Todo dia isso aqui é uma graça", diz ele.
"Sei que de um barranco como esse a gente tem possibilidade de tirar até duas toneladas de ouro, ou mais", diz José Alfredo, que trabalha ao lado de Marques.
O administrador Francisco Brito chegou à região em 1981 para tentar colocar ordem no fluxo de pessoas que chegavam. "Aqui tinha terra agrícola pra ser distribuída gratuitamente com toda a assistência, tinha lote para morar e montar o comércio e oferta de emprego", diz ele.
A mina de Carajás foi descoberta quase por acaso, em 1967, quando o geólogo Breno Augusto dos Santos sobrevoava a região e resolveu pousar em uma clareira. Ao analisar o solo, percebeu estar perto de encontrar um tesouro valioso. "Sabe quando você tem uma emoção muito grande e não quer acreditar que aquilo seja verdade? Essa foi a sensação que eu tive", diz.

Preservação

Para proteger o meio ambiente ao redor da mina, foi criada a Floresta Nacional de Carajás. Funcionário do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Frederico Drumond administra a floresta. "Ela está respirando bem e nos mostra os indicadores de saúde ambiental da floresta. Para esta região, é uma das poucas áreas realmente preservadas", diz ele.
De acordo com Paulo Bueno, gerente de meio de Carajás, é longo o tempo para quem uma novas matas possam florescer. "São mais de 20 anos para conseguir atingir uma floresta estabilizada", explica.


Do Globo Amazônia, em São Paulo, com informações do Jornal da Globo

sábado, 15 de maio de 2010

Usinas vão alagar áreas protegidas da Amazônia


As cinco hidrelétricas que o governo Lula quer construir na região do rio Tapajós (PA) afetarão diretamente 871 km de áreas protegidas de floresta, o equivalente a meia cidade de São Paulo, informa a reportagem de Claudio Angelo publicada na edição deste sábado da Imprensa (íntegra somente para assinantes do jornal e do UOL).

O cálculo foi feito pela Imprensa com base em dados preliminares do estudo de inventário hidrelétrico dos rios Tapajós e Jamanxim, produzido pela Eletronorte e pela Camargo Corrêa.

Segundo o relatório, os reservatórios das usinas devem alagar parte de dois parques e três florestas nacionais. Nos parques, só se permitem pesquisa e turismo; nas florestas, instalar hidrelétricas é proibido.

Desde abril, porém, decreto federal autoriza estudos para hidrelétricas em unidades de conservação. O governo fala em fazer "usinas-plataforma", o que minimizaria o desmate.

Segundo o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, o conceito de usina-plataforma nasceu de "uma constatação de realidade": há muito potencial para explorar em áreas não antropizadas, mas ninguém quer mais o desenvolvimento predatório da Amazônia.

"Você já viu nascer alguma cidade em uma plataforma marítima?"-questiona. Segundo ele, a construção seria feita de forma a impactar só a área do canteiro de obras, que seria depois abandonada para a regeneração da mata.

FONTE: DREAMULE NEWS

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Calor pode deixar 50% da Terra inabitável


BRASÍLIA - O aquecimento global pode deixar até metade do planeta sem condições de ser habitado nos próximos três séculos, segundo estudo elaborado pelas universidades de New South Wales, na Austrália, e de Purdue, nos Estados Unidos.

Para essa conclusão foram considerados os piores cenários de modelos climáticos. As informações são da BBC Brasil.

O estudo, publicado na última edição da revista especializada Proceedings of the National Academy of Sciences, informa, no entanto, que é improvável que isso ocorra ainda neste século. Mas é possível que no século 22 várias regiões estejam sob calor intolerável para humanos e outros mamíferos.

"Descobrimos que um aquecimento médio de 7 graus Celsius (°C) faria com que algumas regiões ultrapassassem o limite do termômetro úmido [equivalente à sensação do vento sobre a pele molhada], e um aquecimento médio de 12ºC deixaria metade da população mundial em um ambiente inabitável", disse o pesquisador Peter Huber, da Universidade de Purdue.

Segundo os cientistas, ao calcular os riscos das emissões de gases atuais, é necessário considerar os piores cenários, como os previstos no estudo. Ao mencionar um aquecimento médio de 12ºC, Huber disse que isso significaria até 35ºC no chamado termômetro úmido nas regiões mais quentes do planeta.

Atualmente, segundo o estudo, as temperaturas mais altas nessa medida nunca ultrapassam 30ºC. A partir de 35ºC no termômetro úmido, o corpo humano só suportaria algumas horas antes de entrar em hipertermia (sobreaquecimento).

Huber comparou a escolha a um jogo de roleta-russa, em que "às vezes o risco é alto demais, mesmo se existe apenas uma pequena chance de perder".

O estudo também ressalta que o calor já é uma das principais causas de morte por fenômenos naturais e que muitos acreditam, erroneamente, que a humanidade pode simplesmente se adaptar a temperaturas mais altas.

"Mas, quando se mede em termos de picos de estresse incluindo umidade, isso se torna falso", afirmou o professor Steven Sherwood, da Universidade de New South Wales.

Calcula-se que um aumento de apenas 4ºC medido por um termômetro úmido já levaria metade da população mundial a enfrentar um calor equivalente a máximas registradas em poucos locais atualmente.

FONTE: DREAMULE NEWS

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Le Monde questiona ações de Dilma contra desmatamento


Artigo publicado no jornal francês Le Monde põe em dúvida a capacidade de Dilma Rousseff (PT) em dar continuidade à redução do desmatamento da Floresta Amazônica, caso seja eleita presidente da República.

Em matéria publicada na última sexta-feira (7), é apresentado o último levantamento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que, segundo o diário francês, “testemunha uma redução sem precedentes do desmatamento” da Amazônia.

De acordo com os últimos dados do INPE, divulgados no final de abril, a área desmatada em toda a Amazônia Legal, entre agosto de 2008 e julho de 2009, foi 42% menor em relação ao mesmo período de 2007-2008.

O jornal ressalta ainda a iniciativa do presidente Lula em realizar o Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma no Brasil. O programa, lançado na última quinta-feira (6), é tido como um exemplo da vontade do Brasil em proteger o meio ambiente.

Apesar da iniciativa do governo federal do qual Dilma fez parte, a capacidade da pré-candidata em tocar projetos ambientais é vista com receio.

“O que acontecerá após a saída de Lula cujo mandato se acaba no fim do ano?”, pondera o jornal para em seguida acrescentar: “Dilma Rousseff encarna mais uma figura da ‘velha esquerda’ do que alguém convertido à ecologia”.

Já o pré-candidato José Serra (PSDB), tido pelo Le Monde como favorito nas próximas eleições, é considerado “discreto” em sua atuação em defesa do meio ambiente.

“O favorito à eleição, José Serra, é até o momento bastante discreto sobre o tema. Governador do Estado de São Paulo, ele, no entanto, está engajado com o Greenpeace a impedir a compra de madeira ilegal pelos órgãos públicos e decretou seu Estado amigo da Amazônia”, diz trecho do artigo.

A pré-candidata pelo Partido Verde (PV), Marina Silva, não é citada na matéria.

Segundo o Executivo, o Programa de Produção Sustentável de Óleo de Palma no Brasil terá investimento de R$ 38 milhões e ficará sob a coordenação da Casa Civil e dos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Desenvolvimento Agrário, de Minas e Energia e do Meio Ambiente.

Com a bandeira da sustentabilidade, o projeto estabelece, entre outros pontos, que a produção fique restrita às áreas desmatadas no passado.

"Boto a mudinha lá, jogo uma uréia e ainda recebo salário. Até eu vou querer plantar palma", disse Lula no lançamento.

FONTE: O GLOBO

Amazônia já perdeu 17% de sua floresta



O Brasil é citado positivamente no relatório do Pnuma por dois motivos: ter sido o país que mais criou áreas protegidas no mundo desde 2003 (foi responsável por quase 3/4 do total) e ter conseguido reduzir a taxa anual de desmatamento da Amazônia. O estudo lembra que o pico da taxa de desmate foi de 27 mil km² em 2003-2004 e, no período 2008-2009, foi de 7 mil km².

“Alguns países demonstram que, com determinadas ações, tendências históricas podem ser revertidas”, diz o documento.

Porém, o País ainda é alvo de muitas preocupações, principalmente no que se refere à floresta amazônica. “Imagens de satélite sugerem que uma área crescente da Amazônia está sendo degradada”, diz o relatório.

Colapso

No Brasil, o desmate da Amazônia já atingiu 17% do total. Estudos indicam que é importante manter o desflorestamento abaixo dos 20% para evitar um colapso. Segundo o documento, com a interação entre desmatamento, queimadas e mudanças climáticas, a Amazônia pode sofrer um colapso generalizado – haveria a ocorrência de fogos mais frequentemente e secas prolongadas.

Esse colapso pode provocar a savanização da floresta em algumas áreas, levar a reduções de chuvas regionais, comprometer a agricultura e a produtividade no País.

O Pnuma avalia ser uma medida “para garantir a segurança”, tendo em vista esse cenário negativo, iniciar programas de restauração da floresta amazônica.

FONTE: Afra Balazina - O Estado de S. Paulo

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mais hidrelétricas na Amazônia


Governo lança seus planos de expansão energética. No horizonte, mais emissão de CO2 e mais represas. Gerações eólica e solar continuam abaixo do nosso potencial.

zoom

Hidrelétrica de Tucuruí: exemplo de ineficiência na Amazônia ©Greenpeace/Alois Indrich

Ontem saiu finalmente a nova versão do Plano Decenal de Expansão Energética, PDE 2010-2019. O plano anual, que projeta o crescimento da oferta energética para os próximos dez anos, era prometido desde o começo do ano. A última versão, lançada no final de 2008, foi criticada pela grande participação de termelétricas fósseis na geração elétrica.

A expectativa, criada pelo governo, era de que a grande quantidade de térmicas fósseis prevista para entrar em operação fosse eliminada desta atualização do plano, o que não aconteceu. Desta vez a expansão de termelétricas movidas a combustíveis fósseis foi reduzida, mas ainda mostra um crescimento incompatível um país com tanto potencial de energia renovável. A capacidade instalada, que era projetada em 14 mil MW no PDE de 2008, foi reavaliada para 10.700 MW, sendo que todas estas usinas seriam construídas até 2014.

O crescimento das térmicas a carvão, portanto, chega a 80% e de óleo combustível a 170%. Como resultado disto, as emissões do setor elétrico dobram no período, de 26 para 51 milhões de toneladas equivalentes de CO2 até o fim da década, um movimento na contramão dos esforços globais de redução de gases de efeito estufa.

Após este período, a grande parte do aumento da geração virá da geração hidrelétrica – teremos mais do que duas Belo Monte em capacidade instalada de novas usinas de grande porte. A maioria delas na Amazônia – colocando a região sob risco de novos impactos ambientais e de aumentar a pressão do desmatamento.

As outras renováveis receberam um tratamento mais favorável em relação ao plano de 2008, mas ainda modesto em relação ao potencial nacional de exploração destas fontes. O número de parques eólicos deve crescer nos próximos dez anos, considerando a construção de projetos do Proinfa e do primeiro leilão de eólicas realizado no ano passado. Mas o número final de 6 mil MW assume que após o leilão de renováveis marcado para este ano, teríamos apenas mais uma licitação deste tipo durante todo o resto da década, o que é muito pouco diante do potencial eólico brasileiro e da demanda do setor de realização de um leilão por ano.

As usinas a biomassa passariam de 5,4 para 8,5 mil MW, uma expansão maior do que a apontada no plano anterior, mas novamente aquém do potencial brasileiro de geração de duas Itaipus apenas com a cogeração da cana-de-açúcar, até o fim da década. Sobre energia solar, absolutamente nenhuma menção é feita ao potencial de geração de painéis fotovoltaicos.

Na área nuclear, o plano continua considerando a construção da controversa usina de Angra 3, apesar de todos os questionamentos em relação à segurança da usina, dos custos subdimensionados e da falta de solução para a estocagem de resíduos radioativos, entre inúmeros outros problemas.

Por fim, o crescimento da oferta de energia ainda é projetado em 56% nos próximos 10 anos, valores exagerados para o aumento da carga neste período, especialmente se considerarmos que o ano de 2009 registrou uma redução de consumo como reflexo da crise econômica. O grande potencial de ações de eficiência energética foi novamente negligenciado. A participação destas ações é restrita a apenas 3,2% de redução do consumo destes próximos dez anos. De acordo com o cenário [R]evolução Energética, do Greenpeace, é possível conseguir mais de 10% de redução de demanda até 2020, considerando a aplicação de medidas em todos os setores de consumo.

A todos os interessados em contribuir com críticas e sugestões ao plano, a consulta pública está aberta até o dia 2 de junho. Os contatos para envio são o e-mail pde2019@mme.gov.br ou o endereço: "Ministério de Minas e Energia – MME, Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético – SPE, Esplanada dos Ministérios, Bloco U, Sala 509, Brasília-DF, CEP 70.065-900.

Entenda a polêmica envolvendo a usina de Belo Monte


Criticada por ambientalistas e representantes de movimentos sociais e encarada pelo governo Lula como projeto prioritário no setor de energia, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte está no centro de uma polêmica.

Enquanto o governo afirma que a nova usina, que tem previsão para entrar em funcionamento em 2015, pode beneficiar 26 milhões de brasileiros, críticos argumentam que o impacto ambiental e social da instalação de Belo Monte foi subestimado e apontam para uma suposta ineficiência da hidrelétrica.

A BBC Brasil preparou uma série de perguntas e respostas que explicam a polêmica em relação à usina.

O que é a Usina Hidrelétrica de Belo Monte?

Com projeto para ser instalada na região conhecida como Volta Grande do Rio Xingu, no Pará, a Usina de Belo Monte deve ser a terceira maior do mundo em capacidade instalada, atrás apenas das usinas de Três Gargantas, na China, e da binacional Itaipu, na fronteira do Brasil com o Paraguai.

De acordo com o governo, a usina terá uma capacidade total instalada de 11.233 megawatts (MW), mas com uma garantia assegurada de geração de 4.571 MW, em média.

O custo total da obra deve ser de R$ 19 bilhões, o que torna o empreendimento o segundo mais custoso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), atrás apenas do trem-bala entre São Paulo e Rio, orçado em R$ 34 bilhões.

A usina deve começar a operar em fevereiro de 2015, mas as obras devem ser finalizadas em 2019.

Qual a importância do projeto, segundo o governo?

Uma das grandes vantagens da usina de Belo Monte, de acordo com o governo, é o preço competitivo da energia produzida lá.

O consórcio Norte Energia venceu o pregão ao oferecer o preço de R$ 78 pelo megawatt-hora (MWh) produzido em Belo Monte, um deságio de 6,02% em relação ao teto que havia sido estabelecido pelo governo - que era de R$ 83 por MWh.

Segundo o presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética, Mauricio Tolmasquim, este teto do governo já representava pouco mais que a metade do preço da energia produzida em uma usina termelétrica, por exemplo, com a vantagem de ser uma fonte de energia renovável.

Além disso, a construção de Belo Monte deve gerar 18 mil empregos diretos e 23 mil indiretos e deve ajudar a suprir a demanda por energia do Brasil nos próximos anos, ao produzir eletricidade para suprir 26 milhões de pessoas com perfil de consumo elevado.

Quem são os grupos contrários à instalação de Belo Monte e o que eles argumentam?

Entre os grupos contrários à instalação de Belo Monte estão ambientalistas, membros da Igreja Católica, representantes de povos indígenas e ribeirinhos e analistas independentes.

Além disso, o Ministério Público Federal ajuizou uma série de ações contra a construção da usina, apontando supostas irregularidades.

Coordenador de um painel de especialistas críticos ao projeto, Francisco Hernandez, pesquisador do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, afirma que a instalação de Belo Monte provocaria uma interrupção do rio Xingu em um trecho de cerca de 100 km, o que reduziria de maneira significativa a vazão do rio.

"Isso causará uma redução drástica da oferta de água dessa região imensa, onde estão povos ribeirinhos, pescadores, duas terras indígenas, e dois municípios", diz Hernandez, que afirma que a instalação de Belo Monte também afetaria a fauna e a flora da região.

Além das questões ambientais, alguns críticos apontam que a usina de Belo Monte pode ser ineficiente em termos de produção de energia, devido às mudanças de vazão no rio Xingu ao longo do ano.

Segundo Francisco Hernandez, dependendo da estação do ano, a vazão do rio Xingu pode variar entre 800 metros cúbicos por segundo e 28 mil metros cúbicos por segundo, o que faria com que Belo Monte pudesse produzir apenas 39% da energia a que tem potencial por sua capacidade instalada.

Como o governo responde a essas críticas?

De acordo com o diretor de Licenciamento do Ibama, Pedro Bignelli, uma das condicionantes impostas na licença prévia para o empreendimento determina que seja mantida uma vazão mínima no rio.

Além disso, ele afirma que há projetos de preservação da fauna e flora e que as comunidades que forem diretamente afetadas serão transferidas para locais onde possam manter condições similares de vida. Ele também nega que as comunidades indígenas serão diretamente atingidas.

Já em relação à eficiência, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Mauricio Tolmasquim, admite que Belo Monte não produzirá toda a energia que permitiria sua capacidade instalada, mas afirma que, mesmo assim, a tarifa será competitiva o bastante para justificar sua instalação.

Segundo ele, o motivo para a redução na produção de energia está nas modificações feitas no projeto para diminuir o impacto da usina na região.

Qual o histórico do projeto?

As prospecções a respeito do potencial de geração de energia da Bacia do Xingu começaram nos anos 1970, e, na década seguinte, havia a previsão da construção de seis usinas na região, entre elas Belo Monte.

Após protestos de líderes indígenas e de ambientalistas, o projeto de Belo Monte foi remodelado e reapresentado em 1994, com a previsão de redução da área represada, o que evitaria a inundação de terras indígenas.

Depois de uma série de idas e vindas, o Conselho Nacional de Política Energética definiu em 2008 que a usina de Belo Monte seria a única a explorar o potencial energético do Rio Xingu.

Em fevereiro de 2010, o Ibama concedeu a Licença Prévia para Belo Monte, impondo uma série de 40 condicionantes socioeconômicas e ambientais ao projeto.

No dia 20 de abril foi realizado um leilão para decidir qual grupo de empresas seria o responsável pela construção da usina, com a vitória do consórcio Norte Energia, liderado pela construtora Queiroz Galvão e pela Chesf.

Como foi o leilão?

O governo havia estabelecido que o vencedor do pregão seria o grupo que oferecesse o menor preço para a produção do megawatt-hora (MWh) de energia em Belo Monte, respeitando-se o teto estabelecido de R$ 83 por MWh.

O preço oferecido pelo grupo vencedor foi de $ 78 pelo megawatt-hora (MWh), um deságio de 6,02% em relação ao teto que havia sido estabelecido.

Já o valor oferecido pelo consórcio derrotado, que era formado por seis empresas e liderado pela construtora Andrade Gutierrez, não foi divulgado.

De acordo com a Aneel, o leilão durou aproximadamente sete minutos, sendo realizado apenas após a cassação de uma liminar da Justiça Federal do Pará que havia determinado sua suspensão.

Até a semana passada, apenas o consórcio liderado pela Andrade Gutierrez estava oficialmente no páreo, após a desistência do grupo encabeçado por Camargo Corrêa e Odebrecht, no início de abril.

A desistência acendeu a luz amarela no governo, que lançou um pacote de medidas para estimular a participação privada no leilão, entre elas, um desconto de 75% no imposto de renda da usina nos primeiro dez anos de operação, além da ampliação para 30 anos do prazo para o financiamento pelo BNDES, que pode financiar até 80% da obra.

Além disso, os dois consórcios contam com participações bastante relevantes de empresas estatais.

*Colaborou Paulo Cabral, da BBC em Brasília

Belo Monte: a volta triunfante da ditadura militar?





O Governo Lula possui méritos inegáveis na questão social. Mas na questão ambiental é de uma inconsciência e de um atraso palmar. Ao analisar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) temos a impressão de sermos devolvidos ao século XIX. É a mesma mentalidade que vê a natureza como mera reserva de recursos, base para alavancar projetos faraônicos, levados avante a ferro e fogo, dentro de um modelo de crescimento ultrapassado que favorece as grandes empresas à custa da depredação da natureza e da criação de muita pobreza. Este modelo está sendo questionado no mundo inteiro por desestabilizar o planeta Terra como um todo e mesmo assim é assumido pelo PAC sem qualquer escrúpulo. A discussão com as populações afetadas e com a sociedade foi pífia. Impera a lógica autoritária; primeiro decide-se depois se convoca a audiência pública. Pois é exatamente isto que está ocorrendo com o projeto da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu no Estado do Pará.

Tudo está sendo levado aos trambolhões, atropelando processos, ocultando o importante parecer 114/09 de dezembro de 2009, emitido pelo IBAMA (órgão que cuida das questões ambientais) contrário à construção da usina, a opinião da maioria dos ambientalistas nacionais e internacionais que dizem ser este projeto um grave equívoco com consequências ambientais imprevisíveis.

O Ministério Público Federal que encaminhou processos de embargo, eventualmente levando a questão a foros internacionais, sofreu coação da Advocacia Geral da União (AGU), com o apoio público do Presidente, de processar os procuradores e promotores destas ações por abuso de poder.

Esse projeto vem da ditadura militar dos anos 70. Sob pressão dos indígenas apoiados pelo cantor Sting em parceria com o cacique Raoni foi engavetado em 1989. Agora, com a licença prévia concedida no dia 1º de fevereiro, o projeto da ditadura pôde voltar triunfalmente, apresentado pelo Governo como a maior obra do PAC.

Neste projeto tudo é megalômano: inundação de 51.600 ha de floresta, com um espelho d'água de 516 km2, desvio do rio com a construção de dois canais de 500m de largura e 30 km de comprimento, deixando 100 km de leito seco, submergindo a parte mais bela do Xingu, a Volta Grande e um terço de Altamira, com um custo entre 17 e 30 bilhões de reais, desalojando cerca de 20 mil pessoas e atraindo para as obras cerca de 80 mil trabalhadores para produzir 11.233 MW de energia no tempo das cheias (4 meses) e somente 4 mil MW no resto do ano, para por fim, transportá-la até 5 mil km de distância.

Esse gigantismo, típico de mentes tecnocráticas, beira a insensatez, pois, dada a crise ambiental global, todos recomendam obras menores, valorizando matrizes energéticas alternativas, baseadas na água, no vento, no sol e na biomassa. E tudo isso nós temos em abundância. Considerando as opiniões dos especialistas podemos dizer: a usina hidrelétrica de Monte Belo é tecnicamente desaconselhável, exageradamente cara, ecologicamente desastrosa, socialmente perversa, perturbadora da floresta amazônica e uma grave agressão ao sistema-Terra.

Este projeto se caracteriza pelo desrespeito: às dezenas de etnias indígenas que lá vivem há milhares de anos e que sequer foram ouvidas; desrespeito à floresta amazônica cuja vocação não é produzir energia elétrica mas bens e serviços naturais de grande valor econômico; desrespeito aos técnicos do IBAMA e a outras autoridades científicas contrárias a esse empreendimento; desrespeito à consciência ecológica que devido às ameaças que pesam sobre o sistema da vida, pedem extremo cuidado com as florestas; desrespeito ao Bem Comum da Terra e da Humanidade, a nova centralidade das políticas mundiais.

Se houvesse um Tribunal Mundial de Crimes contra a Terra, como está sendo projetado por um grupo altamente qualificado que estuda a reinvenção da ONU sob a coordenação de Miguel d'Escoto, ex-Presidente da Assembléia (2008-2009) seguramente os promotores da hidrelétrica Monte Santo estariam na mira deste tribunal.

Ainda há tempo de frear a construção desta monstruosidade, porque há alternativas melhores. Não queremos que se realizem as palavras do bispo Dom Erwin Kräutler, defensor dos indígenas e contra Belo Monte: "Lula entrará na história como o grande depredador da Amazônia e o coveiro dos povos indígenas e ribeirinhos do Xingu".

Leonardo Boff é representante e co-redator da Carta da Terra.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A ORIGEM DO NOME AMAZÔNIA



Não é só na flora e fauna que residem as riquezas da maior floresta tropical do mundo. Muitas lendas habitam a selva amazônica, herança das expedições européias e dos antigos habitantes indígenas. Entre elas, a mais famosa, sem dúvida, é a da origem do nome da floresta.

Foi o explorador espanhol Francisco de Orellana, um dos primeiros a percorrer o rio dos Andes ao oceano Atlântico, quem deu o nome ao rio, referindo-se a histórias sobre a tribo das índias guerreiras que habitavam a floresta. Foram chamadas de amazonas devido à semelhança entre seus costumes com o das guerreiras mitológicas descritas pelos antigos gregos.

A palavra amazonas vem do grego: a (prefixo de negação) e mazos (seios), pois, segundo a lenda, essas guerreiras se automutilavam para melhor manusear as armas. E foi navegando o Mar Dulce (como era conhecido o Rio Amazonas) que Francisco teria sua expedição atacada e rechaçada por guerreiras nuas usando arcos.

As amazonas presenteavam seus parceiros com pequenas pedras com formatos variados, geralmente esverdeadas e representando um sapo, conhecidas como muiraquitãs. A entrega do artefato era realizada durante um ritual em homenagem à lua.

Não há vestígio dessas tribos na região, mas os amuletos, ou muiraquitãs, hoje estão expostos em diversos museus amazônicos.

voltarFonte: Editora Horizonte

FLORESTAS DE TERRA FIRME





No “inverno”, os rios das “florestas alagadas de várzea” da Amazônia podem subir até 15 metros.

De dezembro a junho, a região se enche de água. Animais e plantas precisam se adaptar para sobreviver a essas condições extremas.. Muitas árvores ficam com as copas inteiramente submersas. Os peixes invadem o interior da floresta e fazem o papel de dispersores de sementes, enquanto garças brancas percorrem os cerca de 3 mil lagos formados durante a vazante. As árvores têm troncos envoltos com camadas espessas de cortiça, folhas cobertas por cutículas para impermeabilização e, em alguma espécies, raízes aéreas para garantir o suprimento de oxigênio.

Especial Curiosidades da região






Num único dia, o Amazonas despeja no Oceano Atlântico mais água do que toda a vazão do Rio Tâmisa, em Londres, durante um ano inteiro. Só a Bacia do Rio Negro, um dos afluentes do Amazonas, tem mais água doce do que toda a Europa.

O volume de terra que o Rio Amazonas joga no mar é tão grande que, graças a esses sedimentos, o litoral da Guiana Francesa e do Amapá está crescendo. Esse crescimento, ainda não medido, já aparece em imagens de satélites.

A Ilha de Marajó é na verdade um arquipélago. O número exato de ilhas ninguém conseguiu ainda contar, mas é de pelo menos 2.000. Ocupam uma área de 50.000 quilômetros quadrados, maior que a Suíça.

Ao contrário do que se poderia imaginar, os rios mais feios da Amazônia, os de água barrenta, são os mais generosos para a vida na região. Carregam sedimentos que arrancaram da Cordilheira dos Andres e de outras regiões por onde passam. Na enchente, depositam no solo esses sedimentos, adubando quilômetros nas vizinhanças do rio. Ali, as plantações nascem viçosas quando as águas baixam. Esses rios também têm mais peixes.

Os rios escuros, como o Negro, são muito mais bonitos, mas a água é ácida e pobre em nutrientes. Apenas 5% dos peixes vendidos em Manaus vêm do Rio Negro, que banha a cidade.

Tubarões e outros peixes do mar entram com certa regularidade no Amazonas. Eles não se reproduzem na água doce, mas conseguem se dar relativamente bem. Tubarões já foram pescados até em Iquitos, no Peru, uns 4000 quilômetros rio acima.

Das 483 espécies de mamíferos existentes no Brasil, 324 vivem na Amazônia (67%). Das 141 de morcegos, 125 voam por lá.

Com 30 milhões de espécies, os insetos formam o maior grupo de seres vivos na Terra, sem levar em conta bactérias e microrganismos. Na Amazônia está um terço deles.

Quem não gosta de répteis precisa saber: há 300 espécies desses animais na Amazônia, de cobras a lagartos.

O nome Amazonas foi dado pelo frei espanhol Gaspar de Carvajal, o primeiro cronista europeu a viajar pelo rio, durante a expedição de Francisco de Orellana, na primeira metade do século XVI. O frei afirmou que sua embarcação foi atacada por mulheres que, como na mitologia grega das amazonas, pretendiam escravizar os homens para procriar antes de matá-los.

As mais antigas evidências arqueológicas da existência humana na Amazônia são de, pelo menos, 12.000 anos atrás.

Os índios brasileiros, que eram 6 milhões na época do descobrimento, hoje são 300.000. Enquanto a população total do Brasil cresceu 27 vezes, a dos índios diminuiu vinte. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, havia em torno de 1.300 línguas indígenas no país. Restaram 170.

Dois em cada três índios brasileiros vivem nas reservas indígenas da Amazônia. São 170.000 pessoas em um território equivalente a quase três Alemanhas. Só os 8.200 ianomâmis ocupam uma área de 94.000 quilômetros quadrados, maior que a área de Portugal. Cada índio brasileiro hoje possui em média 3,6 quilômetros quadrados, mais de duas vezes o Parque do Ibirapuera, em São Paulo. No total, é dos índios quase 12% do território nacional.

Há sinais de 53 grupos indígenas ainda isolados, sem contato com a civilização tecnológica, todos na região amazônica. Sujeitos a contatos casuais, os índios continuam despreparados para enfrentar as doenças dos brancos e vivem no nomadismo.

Krenakore, o nome dos índios gigantes da Amazônia, significa "cabeça cortada redondo", uma referência ao seu corte de cabelo em forma de meio coco. É uma designação de cunho pejorativo, dada pelos rivais kayapós. Os krenakores preferem chamar-se de panarás, a palavra para o pronome "nós".

Durante o ciclo da borracha (1879-1912), a Amazônia foi responsável por quase 40% das exportações brasileiras. Manaus era a capital mundial da venda de diamantes, e o seu teatro, com 681 lugares, foi construído na Europa e trazido de navio para ser montado no Brasil. Sob o calor de 40 graus, os ricaços usavam terno, gravata-borboleta e colete, imitando os ingleses. As mulheres vestiam-se com modelos parisienses.

Graças à borracha, nos primeiros anos deste século a Amazônia teve uma renda per capita duas vezes superior à da região produtora de café São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. A riqueza acabou quando ingleses levaram as mudas de seringais para a Malásia, até hoje líder mundial na produção de borracha natural.

Até 1839, a borracha era um artigo que agradava mais aos curiosos do que aos empresários. Ela derretia no calor e tornava-se quebradiça no frio. Naquele ano, um americano chamado Charles Goodyear (daí a marca do pneu) descobriu o processo de vulcanização da borracha. Isso a tornou estável, tanto no frio quanto no calor. O comércio explodiu. Entre 1850 e o começo deste século, as exportações do produto na Amazônia aumentaram trinta vezes.

Nos anos 30, o pioneiro da indústria americana de carros, Henry Ford, resolveu plantar seringueiras na Amazônia. A plantação fracassou porque foi atacada por uma praga da folha.

A primeira megaobra na Amazônia foi a estrada de ferro MadeiraMamoré, em Rondônia. Era parte do preço pago pelo Brasil à Bolívia pela compra do então território do Acre. Serviria para escoar produtos bolivianos, mas foi um fracasso. Durante a construção, entre 1907 e 1912, mais de 6.000 operários morreram de malária um morto por dormente da ferrovia, como se dizia na época. Hoje, dos 366 quilômetros construídos, apenas 7 quilômetros de trilhos continuam em operação.

Ficou famosa nos anos 60 a proposta de um futurólogo americano, Herman Kahn, do Instituto Hudson. Kahn sugeriu que se construíssem sete barragens para criar cinco lagos gigantescos na Bacia Amazônica. Queria estimular o intercâmbio econômico entre os países da América do Sul e o investimento estrangeiro em pesca, mineração e petróleo na região. Aos ouvidos do governo militar brasileiro soou como uma proposta de internacionalização da Amazônia, e as reações contrárias foram muito fortes. Alguns dos projetos faraônicos inventados pelos militares para a região tiveram essa causa. "Integrar para não entregar" era um dos slogans oficiais da época.

O governo militar tentou, via incentivos fiscais, transformar o sul do Pará num pólo exportador de carne nos anos 70. Atraiu para lá 300 grandes empresas e tudo acabou num grande fiasco. Nem o capim nascia direito no solo pobre da região. Para fazer jus às facilidades fiscais, as empresas eram obrigadas a desmatar o terreno. Até hoje o desmatamento é prova de produtividade pelos critérios do governo. Se uma propriedade tem muita árvore, ela é considerada improdutiva.

Nas décadas de 70 e 80, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária imaginou que seria possível colocar 5 milhões de colonos nordestinos na Amazônia. Conseguiu levar 5000 famílias para lá, dando terreno para plantar e salário mínimo durante os primeiros seis meses. Os colonos descobriram que a terra perdia a fertilidade em dois ou três anos. Descobriram também que lá havia muita doença e muito isolamento.

A maior parte do solo é ruim na Amazônia, mas há manchas de terra roxa muito férteis e também áreas limitadas de areião imprestável. O dado decisivo é este: a maioria dos solos não se presta à agricultura.

Qual o valor da Amazônia? Até pouco tempo atrás, os ecologistas nem queriam ouvir uma pergunta dessas. Hoje, muitos estão tentando descobrir quanto a humanidade precisaria gastar para manter o planeta sem a Amazônia. Dois estudos chamam a atenção. O americano Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Inpa, estimou que seriam necessários 3 trilhões de dólares por ano para controlar o efeito estufa, que se agravaria com o fim da floresta. Uma outra conta, feita por pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, concluiu que os benefícios criados pela floresta corresponderiam a 1,1 trilhão de dólares por ano. É mais do que o produto interno bruto do Brasil.

Entre os escritores brasileiros, nenhum conseguiu refletir tão bem o estranhamento de um visitante em relação à Amazônia quanto Euclides da Cunha. Já conhecido por ter escrito Os Sertões, Euclides navegou pelos rios Purus, Juruá e Acre em 1905. Escreveu o seguinte: "O homem ali é ainda um intruso impertinente. Chegou sem ser esperado nem querido, quando a natureza ainda estava arrumando o seu mais vasto e luxuoso salão".

FONTE: VEJA ONLINE

VOCÊ JÁ COMEU UM PEDAÇO DA AMAZONIA HOJE?